JUNU (Geraldo Jr) - Warakidzã
A Alma Afoita da Revolução
É meio dia, é sol a pino
Eu já transpiro e vou dizer!
O meu lamento não tem história
Não tem memória, o mundo não se acabou
Daí por diante segui pensando (segui cantando)
Não acabou, mas está se acabando
No meio dia de um vinte e três de junho
Já a alguns anos depois do final dos tempos
Tanto calor mexeu com a minha cabeça
Eu estou vendo! Quase não me arrependo
Lá vem a banda, talvez seja uma miragem
Dobrado e marcha, mas parece um funeral
São deserdados, esqueléticos soldados
Numa parada, um desfile ou coisa igual
Não tem beleza, a miséria em suas faces
Verdade e lenda se (ajuntaram) arranjaram num só hino
Vão celebrando vitórias que nem sei se temos
O purgatório já não cabe um nordestino
No Juazeiro, à cidade
Eterna Vigília reveste,
Paira no ar um fantasma
De paraíso ou de peste,
De juízo final no fórum
Da injustiça terrestre.
A cidade se recolhe
Serene mobilizada,
Numa muralha ou num manto
Guarda a tenção domada,
Como se só ela soubesse
Da mensageira velada.
Conserva o nervo-energia
A espera da pancada,
Da ameaça que pende
Como pendão ou espada.
Na prontidão se retesa
Em arco e flecha apontada.
Pro fim da vida até que morte nos ampare
Será que existe pra esse mundo uma salvação
Se não, eu fico aqui vagando pelo tempo
Com minha alma afoita por revolução